Translate

sábado, 17 de novembro de 2018

HOMENAGEM A LYGIA SAMPAIO NA ABI

Walter Pinheiro entregando a condecoração à Lygia
Sampaio ao lado do irmão e irmãs da artista.
Uma justa homenagem foi prestada no último dia 14, à artista Lygia Sampaio pela Diretoria da Associação Baiana de Imprensa - ABI , outorgando-lhe a Medalha Ranulpho Oliveira. O ato aconteceu no auditório da entidade que fica no 8º andar do prédio da ABI,  na Praça da Sé , em presença de toda diretoria , convidados e familiares da homenageada. A proposição foi de Ernesto Marques, em reconhecimento ao trabalho desenvolvido por ela na catalogação e organização de parte do Museu da Imprensa , que tem servido de consultas e pesquisas para estudantes e estudiosos da comunicação.
Fui convidado para fazer uma saudação à Lygia Sampaio  pelo colega Luis Guilherme Tavares o que me deixou muito contente, tendo em vista que ela é a última dos modernistas em atividade em nossa Bahia, e uma das artistas mais talentosas desta geração.
Confesso que não sou de falar em solenidades, por mais simples que seja. Nunca tive problemas para dar minhas aulas, profissão que me dediquei por quase 20 anos . Mas, falar em solenidade fico um pouco desconfortável. Passei quase algumas décadas  escrevendo para jornais e revistas. No entanto,  resolvi aceitar o desafio e escrevi este pequeno texto que li na minha saudação.
Ao entregar-lhe a Medalha Ranulpho Oliveira o presidente da ABI, Walter Pinheiro, destacou o trabalho dela pela entidade, e que aquele ato era o reconhecimento e o agradecimento dos jornalistas baianos. Coube ainda ao jornalista e pesquisador Nelson Cadena tecer algumas palavras sobre a Lygia, quando ela estava catalogando documentos na ABI. Ele  comparecia quase diariamente para pesquisar, quando Lygia chamava sua atenção para ter o maior cuidado com o manuseio dos documentos.
Reynivaldo Brito , Lygia Sampaio,Walter  Pinheiro
 ( falando) , Ernesto Marques e Nelson Cadena.
Eis a minha saudação:
Ilmº sr. Presidente da Associação Baiana de Imprensa Amigo Walter Pinheiro, prezado colega Luis Guilherme Tavares
Minhas senhoras meus senhores.

"Estamos hoje aqui reunidos para homenagear uma das artistas mais talentosas destas últimas décadas em nossa Bahia. Trata-se de Lygia Sampaio, exímia desenhista, pintora, gravadora e ilustradora, que receberá a medalha Ranulpho Oliveira por proposição do colega Ernesto Marques, e acatada por unanimidade pela diretoria desta Casa. Digo que é uma homenagem merecida pelo que representa Lygia, responsável que foi pela organização e preservação de parte da  memória da imprensa baiana. Ela trabalhou nesta casa de 10 de janeiro de 1974 a 30 de setembro de 2016 realizando este inestimável trabalho que será útil para as futuras gerações que desejem pesquisar sobre a nossa imprensa. 
Informa Nelson Varon Cadena, este colombiano-baiano, que sempre está pesquisando sobre a cultura e as coisas da Bahia que coube ao então presidente  Afonso Maciel Neto a iniciativa de convidá-la para organizar o acervo doado por Maria Koch de Carvalho, filha do Lulu Parola, fundador do Jornal de Notícias. Foram catalogados documentos, artigos e edições de jornais,  inclusive, posteriormente , outros materiais doados pelas famílias de Simões Filho, Ranulpho Oliveira, Jorge Calmon e pelo historiador José Calazans.
Lembra ainda Cadena que " uma das preciosidades do museu é a coleção quase completa da Revista Única dirigida por Amado Coutinho de 1929 a 1967, além de muitas outros documentos e publicações de destaque da imprensa baiana.
Lygia é uma pessoa reservada, doce , e até mesmo recolhida demais.Sua obra pictórica merecia ser mais vista, e  estar num patamar ainda mais de destaque pela qualidade de suas pinturas, e especialmente de seus desenhos a bico de pena. Tive  oportunidade de ver recentemente muitos desses desenhos guardados em sua casa , os quais  precisam ser mostrados numa grande exposição retrospectiva para que as pessoas que gostam de arte possam apreciá-los.
Nascida em 1928 no bairro do Barbalho, frequentou a Escola Técnica Federal onde foi aluna de desenho técnico e arquitetônico  do professor Presciliano Silva, e depois vai reencontrá-lo na antiga Escola de Belas Artes, que funcionava no casarão na rua 28 de setembro, em pleno Centro Histórico. 
Lá  teve contato com outros mestres da arte baiana como  Alberto Valença,  Raimundo Aguiar, Emídio Magalhães,  João José Rescala, Jair de Figueredo Brandão,Mendonça Filho dentre outros. Ela ressalva que na Escola Técnica era só desenho técnico e arquitetônico como plantas de casas etc.Nada de desenho a mão livre,  e que na Belas Artes fazia desenhos de  nu artístico com modelo, e também paisagens, igrejas e casarões do Centro Histórico. 
Confessa ter até hoje arrependimento de não ter ouvido o seu mestre que lhe aconselhou a aprender técnicas de pintura ."Se tivesse aprendido as técnicas da pintura, inclusive como lidar com os pincéis, usar as tintas adequadamente, tudo dentro da técnica,teria me facilitado mais ainda na hora de pintar os meus quadros."  
Antes,estudou com o pintor Santa Rosa.Mas, em 1948 já estava no Curso Livre da Escola de Belas Artes,  e em 1949 passa a frequentar o ateliê que Mário Cravo Junior tinha na Ladeira da Barra, onde hoje está edificado um hotel.  Ela lembra de passagens com o grande escultor baiano, e de sua sinceridade em elogiar ou criticar os seus desenhos, feitos naquela época de aprendizado. Participou juntamente com Mário Cravo,  Jenner Augusto e Rubem Valentim do Grupo Renovador das Artes Plásticas Baianas.
Foi trabalhar na Prefeitura  e nesta época elaborou um painel para o então Departamento de Turismo, da Prefeitura de Salvador, que funcionava no Belvedere da Sé. Em 1982 vai colaborar com o Núcleo de Artes do Desenbanco ao lado de Sylvia Athayde. No ano seguinte, volta a pintar. 
Quando jovem fez muitas exposições e participou até do Salão Baiano de Artes Plásticas, onde em 1950 foi agraciada com uma Medalha ao Mérito. Mas, no decorrer de sua carreira sempre teve alguns períodos que ela ficou afastada da arte.
Ela sempre aproveita, todas às vezes que alguém vai lhe entrevistar para agradecer ao diplomata e escritor Renato Almeida que insistiu para que ela fosse fazer o Curso Livre na Escola de Belas Artes,  e a apresentou ao mestre Presciliano Silva. 
Sua última exposição foi uma retrospectiva no Museu de Arte Sacra em outubro de 2014. Ela estava com 86 anos de idade, e lá estive juntamente com o artista e galerista Leonel Mattos quando pude ver reunidas importantes obras criadas por Lygia  durante sua trajetória artística. Lembro que sentadinha  ia recebendo pacientemente quase todos os presentes que queriam lhe dar um abraço e pedir um autógrafo . Foi um sucesso de crítica e de  público.
Com seus 90 anos de idade, e ainda com a mão firme produzindo seus desenhos, Lygia Sampaio é a última dos artistas modernistas baianos ainda em atividade. 
O jornalista que vai entrevistá-la é um privilegiado. Sim, porquê neste mundo apressado e violento quando chega diante de Lygia Sampaio vivencia alguns momentos da leveza e  da graciosidade desta mulher com seus cabelinhos brancos  emanando  ternura e sabedoria. 
Quero aqui agradecer ao presidente da ABI, Walter Pinheiro, e especialmente a Luis Guilherme por ter me chamado para pronunciar estas breves palavras sobre Lygia Sampaio, a qual merece todas as homenagens. 
Muito Obrigado "

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

FILME SOBRE A VIDA DE FRANS KRAJCBERG

Cartaz do filme de Renata Rocha
Assisti a primeira exibição do filme "O Grito" sobre a vida do artista e ativista polonês Frans Krajcberg, ontem, dia 13, no Museu de Arte da Bahia, no Corredor da Vitória. De autoria da jornalista e cineasta Renata Rocha o filme tem duração de  70 minutos e conta parte da vida e do legado deste multi artista que era gravador, fotógrafo, escultor, pintor e um dos ativistas em defesa de nossas matas, especialmente da Mata Atlântica.
A apresentação do filme foi um pouco prejudicada, porquê o local não era apropriado e perdeu um pouco na qualidade do som. Tem algumas narrativas feitas por Maria Bethânia e uns depoimentos de dos artistas plásticos Carlos Vergara , do baiano Justino Marinho ,
e de outras pessoas. 
Achei fora do contexto o depoimento de um ex-governador e sua esposa, que nunca tiveram qualquer envolvimento com a arte feita na Bahia ou mesmo com a obra de Krajcberg. No geral gostei do filme porquê é um documento em movimento do que Franz fazia em seu refúgio e mostra seu ambiente criativo para a posteridade. E foi feito com um grande esforço e técnica de Renata Rocha.
Filme sendo projetado no Museu de Arte da Bahia


Ele construiu sua casa no alto utilizando pilares de cimento armado imitando troncos de árvores queimadas ou mortas numa mancha de Mata Atlântica no município de Nova Viçosa  no sul da Bahia. E ali conseguiu atrair outros artistas. Lá já morava o arquiteto e designer José Caldas  Zanini , que nasceu em Bolomnte, na Bahia em 1918 e morreu em Vitória, do Espírito Santo em 2001. Ele   construiu algumas casas em Joatinga, no Rio de Janeiro, e no sul da Bahia trabalhava com  móveis utilizando também madeiras provenientes dos desmatamentos . Antes Zanini ensinava na Universidade de Brasília. Em seguida  no ano de 1968 resolveu construir uma casa em Nova Viçosa, onde abre um ateliê-oficina,que funciona até 1980, e participa do projeto de uma reserva ambiental com o artista Frans Krajcberg. Foi Zanini que projetou em 1971 a casa de Krajcberg.
Frans Krajcberg em  busca por materiais na sua
reserva de Mata  Atlântica,foto Renata Rocha
                      
                           O HOMEM
Nasceu na cidade de Koziennice, na Polônia.  Estudou engenharia na universidade de Leningrado, na Rússia, e durante a Segunda Guerra perde toda sua família num campo de concentração. Vai para a Alemanha e ingressa na Academia de Belas Artes de Suttagart, e em seguida resolve vir morar no Brasil, chegando aqui em 1948. Já em 1951 participa da 1ª Bienal Internacional de São Paulo expondo duas pinturas. Depois reside uma temporada no Paraná e foi para a zona rural trabalhar em suas obras.Em 1956 vai para o Rio de Janeiro onde divide um ateliê com o escultor Franz Weissmann ( 1911-2005). Naturalizou-se brasileiro no ano seguinte  e a partir de então alterna residência entre o Rio de Janeiro e Nova Viçosa.
Casa do artista projetada José Caldas Zanini
Transforma-se num ativista fazendo viagens para a Amazônia e Mato Grosso onde fotografa os desmatamentos e as queimadas, mostrando imagens chocantes. Dessas viagens traz algumas raízes calcinadas e as utiliza para criar belas esculturas. Prossegue com este trabalho criando uma marca inconfundível. Em 2003 é criado o Instituto Frans Kracjberg , em Curitiba, para o qual ele doou uma centena de obras, preservando assim o seu legado.
É preciso que o governo da Bahia e a Prefeitura de Nova Viçosa atentem para a necessidade urgente de preservar aquela mancha de Mata Atlântica que ele deixou e também as obras e sua casa, que é um símbolo da resistência contra o desmatamento e as queimadas de nossas matas.
 O artista morreu em 15 de novembro de 2017 vítima de uma pneumonia no Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro, portanto, amanhã faz um ano de sua morte.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

LYGIA SAMPAIO EXPÕE AOS 86 ANOS DE IDADE

segunda-feira , 27 de outubro de 2014.
Lygia dando entrevista a uma
emissora de televisão na expo
.
Uma das primeiras  modernistas da Bahia , a artista Lygia Sampaio é hoje quase uma cult devido a sua vida pacata e ao afastamento do círculo cultural de nosso Estado. Aos 86 anos de idade ela volta a aparecer agora com uma exposição no Museu de Arte Sacra da UFBa ,o que é muito importante para as novas gerações conhecer esta artista de talento, mas, que não conseguiu ou não quis acompanhar de perto o movimento e a produção de arte. Talvez um pouco culpa do seu temperamento quieto ou mesmo por uma opção de ficar reclusa cuidando de sua vida como funcionária pública e doméstica.
Leonel Matos e Reynivaldo
Brito ao lado da artista
Porém, o que nos revela é que Lygia nunca deixou de pintar. É verdade que não é uma produção comum a um artista que esteja no mercado disputando o seu espaço. Porém, lhe permitiu  ficar com os  pincéis e outras ferramentas de trabalho expressando seus sentimentos através de sua arte.
Quando comecei a me interessar por arte já ouvia falar de Lygia Sampaio. Certo dia fui a uma exposição no antigo Desenbanco onde pude apreciar a qualidade, a expressividade  e a beleza de sua arte. Depois poucas vezes ouvi falar da artista, mesmo frequentando o círculo de arte e mantendo contatos com muitos artistas. Como uma monge Lygia vivia recolhida no seu mundo particular , longe das vernissages e dos encontros de arte.

Cici e Vardete, óleo de Lygia,1949
Recentemente ela falou mais ou menos assim, com seu jeito cheio de simplicidade, que tinha feito umas santinhas e que as achava bonitinhas. Em seguida arrematou : não sei se estou fazendo isto porque já estou velha. Esta é a Lygia Sampaio, com seu corpo frágil, falando baixinho dando mais uma demonstração do seu temperamento humilde.

Não vejo  indiferença do meio artístico com relação a ela. Todas às vezes que ouvi alguém falar de Lygia Sampaio surgiram os elogios. O que deve ter acontecido é quando um artista se esconde, fica recluso ele está dando sinais ao mercado e aos colegas que não quer ser importunado.Ora, o mercado é dinâmico, a vida é dura pra ser tocada, então o recluso vai ficando naturalmente de lado. Este distanciamento muitas vezes funciona como um start e o artista passa a produzir mais e mais . Outras vezes, a falta de estímulo de colegas e do mercado fazem com que o artista produza muito pouco e não evolua.
Centro histórico pintado por Lygia há algumas décadas.


Lygia frequentou a Escola de Belas Artes, mas terminou abandonando devido aos horários que eram conflitantes com os da Prefeitura onde trabalhava. Ela lembrou também que quando estava estressada  no trabalho dava uma volta pelo centro histórico e fazia alguns desenhos . Naquela época esta região da cidade era tomada por prostitutas e malandros especialmente a área do Pelourinho. Portanto, de certa forma ela se arriscava para praticar a sua arte.
Estive na abertura da exposição de Lygia e fiquei realmente impressionado com os desenhos, as xilogravuras e os quadros a óleo que ela pintou durante seus 60 anos de arte. Sendo uma das pioneiras do modernismo baiano e brasileiro Lygia Sampaio precisa ser melhor avaliada e valorizada pela qualidade de sua arte e por este legado que deixa para a arte brasileira. 
Senti de perto que esta mulher valorosa, hoje, frágil, devido aos seus 86 anos de idade , tem uma história de vida dedicada à arte. 
Estava  feliz e rodeada de muitos amigos . Poucos artistas das  novas gerações estiveram presentes na vernissage. Isto é uma demonstração de desinteresse  em aprender, em melhorar a arte que produzem, com uma artista que verdadeiramente sabe pintar.

LYGIA SAMPAIO E A GRANDEZA DE SUA ARTE

A graciosidade e a leveza de Lygia
 Sampaio aos seus 90 anos de idade
.
Aos 90 anos a artista Lygia Sampaio é última representante do movimento de arte moderna que ocorreu na Bahia no século XIX tendo como integrantes Mário Cravo Júnior, Carlos Bastos, Genaro de Carvalho, Rubem Valentim, Jenner Augusto dentre outros já falecidos. A artista Lygia Sampaio tem uma trajetória nas artes plásticas desde os seus anos de adolescente. Nascida em 1928 ela viu e participou de muitos salões, exposições e discussões sobre a arte na Bahia.
Tudo começou quando  foi estudar com o pintor Santa Rosa,  e já em 1948 fez Curso Livre na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia que funcionava na rua 28 de setembro, em pleno centro do mangue em Salvador. Nesta ocasião ela entrou em contato com os grandes mestres da pintura baiana como Presciliano Silva, Mendonça Filho, Raimundo Aguiar, Alberto Valença, dentre outros. 
Desenho de sua avó
Lá recebeu incentivos dos mestres e se tornou uma desenhista importante sempre trabalhando a mão livre nas sessões de desenho com modelo ao vivo. Ela relembra que ficava às vezes penalizada de ver àquela modelo, que era uma prostituta contratada,  posando para os alunos e professores da Escola de Belas Ates onde passava horas numa determinada pose, até ser autorizada a fazer uma nova pose para que todos pudesse pintar ou desenhar.
Diz ainda Lygia Sampaio que foi o diplomata e escritor Renato Almeida que se entusiasmou com um desenho que ela fez, que era a cabeça de um homem com o olhar bem diferenciado. Ele gostou tanto que me recomendou para frequentar o Curso Livre de Desenho,e assim fui conhecer este mundo fantástico da arte.
Esta foi a segunda obra que ela
pintou no início de carreira.
Ela conhecia o mestre Presciliano Silva que era professor de desenho na Escola Técnica Federal, que funcionava no Barbalho, onde ela nasceu, morava e estudou. "Mas, lá era só desenho técnico e arquitetônico. Nada de desenho de figuras humanas , paisagens ou seja desenhos livres.
Foi em seguida, aprender a desenhar com luz artificial quando Mário Cravo Júnior chegou dos Estados Unidos. Assim, ela passou a levar seus desenhos debaixo do braço para Mário dar suas orientações. Nesta época o atelier de Mário Cravo ficava na Ladeira da Barra, onde hoje foi erguido um hotel.
Lembra Lygia Sampaio que ele fazia muitas críticas, às vezes elogiava, mas, sempre tinha algo para que  pudesse melhorar. Foi para ela um grande aprendizado pela sinceridade de Mário Cravo, que sempre foi uma marca forte da sua personalidade. Ele dizia realmente o que sentia.
Lygia  tem um arrependimento de não ter aprendido na Escola de Belas Artes as técnicas da pintura "porque ai teria aprendido até a limpar e lidar melhor com os pincéis, usar as tintas adequadamente como manda a técnica". E continua: Um dia encontrei com os professores Presciliano, Mendonça e Valença e eles se acercaram de mim recomendando que fosse aprender a técnica de pintura. " Mostrou arrependimento por não ter ouvido os conselhos dos mestres.
Outra lembrança que o agrada muito foi a participação em vários salões, e que em 1950 foi a única mulher participante do Salão Baiano organizado por José Valadares, que era irmão do também crítico e escritor Clarival Prado Valadares. Ela foi agraciada com uma medalha em reconhecimento a qualidade dos seus desenhos em papel . 
Lygia em sua residência, no Cabula, folheando um
dos três álbuns onde ela reuniu recortes de jornais
e sobre sua carreira de pintora e desenhista.
A desenhista, pintora e gravadora Lygia
Sampaio realizou um belo painel para o então Departamento de Turismo da Prefeitura Municipal que funcionava no Belevedere da Sé. Em 1949 ao lado de Mário Cravo Júnior, Jenner Augusto (1924-2003) e Rubem Valentim ( 1922-1991) criou o Grupo Renovador das Artes Plásticas Baianas.
Uma bela obra com
colagem e desenho
.
Ela trabalhou na Associação Baiana de Imprensa por 30 anos, de 10 de janeiro de 1974 a 30 de setembro de 2016 ,onde ajudou a criar o Museu de Imprensa da ABI, que é um espaço de preservação e valorização da História da imprensa, como destaca o Jornalista Luís Guilherme Dias Tavares. Está prevista inclusive uma homenagem a artista com a entrega da Medalha Ranulpho Oliveira ainda este mês corrente.
Em 1982 torna-se colaboradora do Núcleo de Artes do Desenbanco, dirigido pela museóloga Sylvia Athayde, que também foi diretora do Museu de Arte da Bahia. Em 1983 retorna às artes plásticas depois de ficar quase 20 anos afastada. 
A sua última exposição foi em 2014 no Museu de Arte Sacra da Bahia. Foi uma retrospectiva com várias obras em óleo sobre tela , desenhos e gravuras. Foi um sucesso.





segunda-feira, 8 de outubro de 2018

RUBEM VALENTIM : O TEMPO É SUA ANGÚSTIA

ARTES VISUAIS
 Jornal A Tarde, segunda-feira, 14 de julho de 1980
 Texto Reynivaldo Brito




Após 13 anos voltava à Salvador o pintor Rubem Valentim , isto ocorreu em julho de 1980, e no dia 14 deste mês publiquei uma reportagem de uma página inteira com este título.


Veja o texto na íntegra:
Treze anos depois, volta à Bahia o artista Rubem Valentim. Uma das grandes expressões plásticas do país e um dos poucos que resiste às influências européias. Uma resistência heróica, que é fortalecida por seu axé e pos sua vontade em preservar e cultuar toda a força da cultura afro-brasileira que carrega em suas veias. Inquieto, emotivo e, acima de tudo, lúcido, Valentim tem muito o que dizer especialmente aos jovens artistas, preocupados com correntes e estilos alienígenas . Vivendo no Planalto Central, pretende agora implantar nos arredores da Capital Federal um pedaço da Bahia. Mas, acha que ainda é pouco, e, além deste centro cultural que vai funcionar em Brasília, pretende abrir um atelier na Gamboa para servir de pouso baiano. 
Foto de 7 de janeiro de 1992 O artista,Ivo Vellame  e eu conversando sobre a arte brasileira.
“O tempo é a minha grande preocupação – uma das minhas angústias é ver chegar o tempo final sem poder realizar tudo o que imaginei. Se nasce em coflito com o mundo e/ou o enfrentamos e o deglutiamos ou perecemos. Creio que os artistas ou sensitivos, obviamente, resultam disso e da maneira específica como reagem, criam essa coisa que se convencionou chamar arte – ou como querem atualmente , antiarte, resulta no mesmo – e desafiam o tempo, esta sua maior preocupação, já que o vê fluir, ir-se embora, aproximar-se a morte.Sentindo na carne uma triste solidão, fiz do fazer minha salvação. Artista liberto, libertador, faço meus exercícios plástico-visuais lutando com todas as minhas forças para ser mais humano, mais tolerante nesta época de insólita violência”.
Este é um pequeno trecho do “Manifesto Ainda que Tardio”, do artista Rubem Valentim, criador de uma linguagem plástica-visual ligada aos valores míticos profundos da cultura afro-brasileira. Inquieto, erudito, e muito lúcido, Valentim é um homem capaz de traduzir sua criação plástica e mítica para uma linguagem compreensível e que certamente contribuirá para o entendimento da arte que se faz hoje no Brasil. Amado ou odiado, este artista é inegavelmente um dos mais representativos de uma arte que se quisermos dizer assim brasileira, ligada às suas raízes negras, ligada à cltura afro, com a qual tomou ciência desde os primeiros anos de sua vida, quando sua velha tia frequentava o candomblé e cultuava os orixás mais significativos do culto.
“A arte é um produto poético, cuja exist6encia desafia o tempo e por isso liberta o homem. Isso me afeta de uma maneira total, porque sou um indivíduo tremendamente inquieto e substancialmente emotivo. Talvez, precisamente por isso, busco ávido, na linguagem plástica visual que uso uma ordem sensível, contida, estruturada. A geometria é um meio .Procuro a claridade, a luz da luz. A Arte é tanto uma arma poética para lutar contra a violência como um exercício de liberdade contra as forças repressivas: o verdadeiro criador é um ser que vive dialeticamente entre a repressão e a liberdade.”
Durante o depoimento , do qual participei como entrevistador, confesso que fiquei entusiasmado com a lucidez de Rubem Valentim. Parece um jovem adolescente – só que lúcido – que carrega consigo uma imensa vontade em fazer e emoção. Agora mesmo está construindo um centro cultural em Brasília, que será um pedaço da Bahia plantado em pleno Planalto Central, e por outro lado, procura deixar em sua velha Bahia um pouso com alguns trabalhos para continuar bebendo o axé que tanto serviu de força à sua criação. Ele mesmo revelou, durante o depoimento, que “tive a maldição de sair mais sensível que meus irmãos. Sou um cara inquieto que quer fazer coisas. E desde que me conheço, que sou artista. E sempre gostei de cores e criar.O criador é inconformado e/ou por convicção”.

                                                                     QUEM É

Rubem Valentim nasceu em 9 de novembro de 1922, no Maciel de Baixo, número 17,num pequeno sobrado, hoje conservado pela Fundação do patrimônio Históricoe Artístico da Bahia. Morou no Beco do Seminário e, em seguida, na Gamboa, onde até hoje residem seus pais. É de família humilde e seu pai por ser filho ilegítimo foi encaminhado ao Colégio dos Órfãos de São Joaquim, repositário naquela época dos filhos das mucamas, dos filhos dos mulatos e das negras com brancos. Relembrando sua infância no Maciel, Valentim dissse que certa vez encontrou na rua um caco de vidro azul e partiu para apanhá-lo, mas uma garota mais ligeira pegou o caco de vidro. Inconformado, deu-lhe um empurrão e uma dentada porque queria de qualquer forma aquele caco, pois estava entusiasmado com as cores que refletiam com os raios de sol.
Mas , sua primeira iniciativa foi fazer paisagens e figuras para presépios que todos os anos sua mãe gostava de armar nas proximidades do Natal. Neste época já morava na Rua Futuro do Tororó, e também frequentava as festas populares e os candomblés. As pessoas diziam que ele tinha Omolu, Oxalá e Oxum.Assim, começava instintivamente seu gosto plástico e sua identificação com as manifestações religiosas afros. Preocupado com os problemas místicos, com este grande desafio existencial do homem seguiu pela vida. Estudou odontologia ( contra a sua vontade ) e ainda exerceu durante um ano a profissão de dentista. Na década de 40, lembra-se que pintava paisagens e naturezas mortas. Mas, surgia na Bahia alguns movimentos, ecos do Movimento de 22, no Sul do país. O Arco e Flexa, com Carvalho Filho, Godofredo Filho e muitos outros, e depois a Revista Cadernos da Bahia, com Genaro de Carvalho ( nessa época fazia marinhas) . Valentim fazia sua “pintura secreta”. Não mostrava a ninguém.Porém, foi relizada uma exposição de Lívio Abramo, Bonadei, Segall, Cícero Dias e Di Cavalcanti organizada pelo Marques Rabelo. Nesta exposição foi apresentado o que existia de mais significativo nas artes do Brasil. Era Vasconcelos Maia que liderava Cadernos da Bahia e que contou com a orientação de José Valadares ( embora de uma geração anterior) e deste movimento ainda participavam Wilson Rocha , Claudio Tuiti, Heron de Alencar, Vivaldo Costa Lima, Mário Cravo Júnior, Carlos Bastos, Lygia Sampaio ( que deixou de pintar) e depois Jenner Augusto e Carybé. Quem descobriu que Valentim estava pintando foi Vasconcelos Maia, que mostrou alguns trabalhos a Aldo Bonadei o qual disse mais ou menos assim :Este jovem é uma surpresa e um dos que pode realizar alguma coisa. Tem futuro.”


Depois desta mostra foi organizada pela então Casa da França uma exposição de belas reproduções dos grandes mestres da arte mundial. Foi um novo mundo para Valentim,que recebeu um impacto violento e passou a devorar livros sobre arte na biblioteca de José Valadares. Daí, passou a estudar copiando os principais mestres , porém nunca perdeu sua autocrítica e queria a todo custo encontrar sua linguagem plástica. Mas, este tempo Valentim não renega, pelo contrário, chega a afirmar que feliz daqueles que pegam boas influências , mas é preciso , antes de tudo, encntrar sua própria linguagem plástica. “E , foi por isto que retomei as minhas fontes. Quando fraquentava o condaomblé ficava extasiado com aquele mundo encantado das danças , e das músicas. Era o meu mundo”.
“Minha arte tem um sentido monumental intrínsico. Vem do rito , da festa.Busca as raízes e poderia reencontrá-las no espaço, como uma espécie de ressocialização da arte, pertencendo ao povo. É a mesma monumentalidade dos totens, ponto de referência de toda tribo. Meus relevos e objetos pedem, fundamentalmente, o espaço. Gostaria de integrá-los em espaços urbanísticos, arquitetônicos e paisagísticos.”
“Meu pensamento sempre foi resultado de uma consciência de terra , de povo. Eu venho pregando há muitos anos contra o colonialismo cultural, contra a aceitação passiva, sem nenhuma análise crítica, das fórmulas que nos vêm do exterior – em revistas, bienais, etc. E a favor de um caminho voltado para as profundezeas do ser brasileiro, suas raízes, seu sentir. A arte não é apanágio de nenhum povo, é um produto biológico vital”.
Naquela época discordava de algumas pessoas devido a subserviência à cultura européia.Era o concretismo europeu.Como construtivista geométrico, com ligações muito grandes com suas raízes. Mantinha sua linha singular e a diretriz que desenvolve até hoje. Veio o movimento de cisão e surge o neoconcretismo do Rio de Janeiro, contra o concretismo matemático, mais impessoal. Não assinou o manifesto.
Alguns anos depois foi para a Europa onde manteve contato com a verdadeira arte negra nos museus.A arte negra que hoje não se faz mais na África . Não confundir com a arte negra de fundo de quintal, para agradar aos turistas, que se produz por lá . Viu, também , na Europa e África, muitos copiando Picasso, Braque e muitos outros, fenômeno que ocorre até hoje no Brasil. Conti nuava resistindoe lembra-se que Roger Bastide lhe disse certa vez que o que fazia agora é o que talvez o negro venha a fazer daqui há 50 anos, quando redescobrir suas origens. No festival de arte negra que participou, a África se fez presente através de seus trabalhos, dizia Bastide. Isto, porque muitos, estavam e estão fazendo uma contra-fração da arte negra baseados no folclore. “Como sou um cara que mantenho as minhas raízes e tenho uma consciência muito forte de nacionalidade, fiquei feliz com isto. Esta afirmação veio fortalecer a minha consciência artística, o meu compromisso com as coisas ligadas a mim”.
Quando retornou da Europa , entre 1966 a 967, Rubem Valentim veio participar como convidado da I Bienal Nacional de Artes Plásticas realizada na Bahia, no Convento do Carmo, onde mostrou cerca de trinta trabalhos e ganhou o prêmio no valor de C$5 mil cruzeiros, “pela contribuição à arte brasileira”. Este prêmio gerou uma polêmica muito grande. A inquietude e a força criadora de Valentim voltavam a incomodar os insensatos. O mesmo veio a se repetir na XIV Bienal Internacional de São Paulo, quando apresentou o Templo de Oxalá, o qual foi renegado por alguns, que não chegaram nem a conhecer o trabalho, pois estavam comprometidos com outros artistas e linguagens.
“Intuindo oi meu caminho entre o popular e o erudito , a fonte e o refinamento – e depois de haver feito algumas composições, já bastante disciplinadas, com ex-votos, passei a ver no instrumentos simbólicos, nas ferramentas do candomblé, nos abebês , nos paxarôs, nos oxés , um tipo de “fala”, uma poética visual brasileira capaz de configurar e sintetizar adequadamente todo o núcleo de meu interesse como artista. O que eu queria e continuo querendo é estabelecer um design ( que chamo riscadura brasileira ) , uma estrutura apta a revelar a nossa realidade – a minha, pelo menos – em termos de ordem sensível. Isso se tornou claro por volta de 1955-56, quando pintei os primeiros trabalhos da sequência que até hoje , como todos os novos segmentos, continua se desdobrando”.
O seu templo de Oxalá – “O muro como suporte de obra. No muro, um painel com símbolos , relêvos de madeira brancos, num fundo azul profundo. Dimensóes de 14 m de largura por 4 m de altura. Além de 20 esculturas emblemáticas, brancas, em madeira de diferentes alturas, no chão um tapete verde englobando tudo, uma área de 200m2. Era o Templo de Oxalá, expressão maior da arte de Valentim, que transbordava nos salões frios e europeus da bienal paulista, uma ambiência de plasticidade sacra. O Tempo de Oxalá é a síntese do seu trabalho.
E, o crítico Theon Spanudis afirmava: “Pergunta-se tanto qual é a verdadeira arte brasileira. Tarsila do Anaral, entre 1923 e 1930 foi a primeira a criar um mundo plástico novo, de excepcional nível estético, partindo da realidade brasileira. O segundo foi Volpi, de 1950 em diante. O terceiro, cronologicamente , é Rubem Valentim, o primeiro a brotar em inúmeras obras e criações inéditas todo este mundo mágico e espiritual das entidades étnicas, marginalizadas no continente americano. Esta é a verdadeira arte brasileira. O resto é folclorismo, ou versões brasileiras das modas internacionais”.
Esta lúcida afirmação de Spanudis, que concordo plenamente, reflete exatamente o pensamento de muitos daqueles que enxergam o horizonte e veêm a necessidade de um voltar às coisas que nos rodeiam. Reflete a sensibilidade dgente que sente as coisas que estão por aqui e acham que não é preciso buscar a tristeza européia, que resulta no fazer uma arte secundária. E Rubem valentim é, nestas poucas palavras , um batalhador pela coisa brasileira. Um artista consciente que se rebela contra a colonização e dependência cultural. Ele mesmo lembra que tivemos uma herança barroca e quando veio a Missão francesa, confundiu tudo, justamente quando o barroco sofria influ6encia tropical. Veio o academicismo atéo o Movimento de 22. Mas, continuou resistindo e o Nordeste brasileiro é talvez um núcleo natural de resistência, embora existam as aldeias globais que massificam e destroem. Isto, porque são fndamentadas nas referências européias.
“- Tudo que foi dito acima é o meu pensamento há cerca de 25 anos . Hoje, vejo com satisfação que artistas criadores maduros e jovens inquietos voltam-se, buscam, tomam consciência mais profunda da cultura de base, das raízes culturais da nação brasileira. Esse mundo mítico e místico, poético, às vezes ingênuo, puro e profundo porque entranhando nas origens do ser brasileiro. Transpor criando, no plano de linguagem e dar o salto para o universal, para a contemporaneidade de toda essa poética,m sem se recorrer a intelectualismos estéreis, é que é o x do problema.
                                            
                               CONCLUINDO

A arte brasileira só poderá ser produto poético autêntico quando resultado de sincretismos, de aculturações sígnicas (semíotica/semiologia não verbal) das culturas formadoras da nossa nacionalidade de base ( branco-luso-negro-índio), acrescidas com a contribuição das culturas mais recentes, trazidas pelos diferentes povos de outras nações e que, aqui nesse espaço, Brasil-Continente, comum a todos, se misturam criando um sistema de brasilidade cultural de caráter singular, de rito, mito e rítmo que sejam inconfundíveis, apesar da famigerada aldeia-global. O fundamental é assumir a nossa identidade de povo em termos de nação.

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

ABANDONARAM O MUSEU

O fogo destruiu milhões de objetos de arte
colecionados e pesquisas  de muitos anos.
Aos poucos vão surgindo informações sobre como a administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro - URFJ através sua reitoria tendo à frente o militante de extrema esquerda do PSOL Roberto Leher, tratava museu. Simplesmente o abandonaram.
Num vídeo que circula nas redes sociais ele prega a luta armada, e cita até um poema de Bertold Brecht . Diz claramente que os conservadores devem ir para covas. "Nenhum diálogo, luta". 
Palavras textuais de um reitor responsável pela administração do Museu Nacional do Rio de Janeiro.
Existe um pensamento da esquerda a nível mundial que tem como base a chamada Escola de Frankfurt que surgiu na Alemanha, e se estabeleceu em algumas universidades americanas liderada pelo filósofo hungáro marxista  Georg Lukács .Ele defende   de que devem ser destruídos os valores sociais e históricos para a construção de novos valores com o viés  socialista-comunista.
 Portanto, para eles o incêndio numa dependência de um prédio público, num museu histórico fazem parte deste processo de construção "de um novo amanhã". Simples assim.
Veja este video.https://youtu.be/nO6srkg9NOc


terça-feira, 11 de setembro de 2018

MARIA ADAIR COMEMORA OITENTA ANOS COM EXPOSIÇÃO

Fachada da galeria com o nome da exposição
"Oitenta" é o nome da exposição que a artista Maria Adair estará realizando a partir do próximo dia 13, na galeria Paulo Darzé, no corredor da Vitória, em Salvador. Conheço de perto esta trabalhadora das artes, que tem uma disposição invejável para realizar coisas. Inquieta , de simples professora do interior se lançou no mercado das artes, sendo artista de sucesso, professora da Escola de Belas Artes, e principalmente uma artista que não se intimida em inovar. Ela se lança em novos projetos, e vai assim construindo o seu mundo pictórico, que já foi mostrado em alguns estados e países.


Patos ganham vida com Adair . 
 Qualquer objeto serve como suporte para sua arte multicolorida e vibrante. Um aviãozinho encontrado numa feira de artesanato, uma vara , uma cadeira jogada num canto, uma mesa de centro, algumas xícaras esquecidas numa prateleira, patos e cubos de madeira, garrafas, frascos,etc. Enfim, esta capacidade de enxergar esses objetos como possíveis suportes para expressar a sua arte nos dá uma ideia aproximada de como ela é  antenada . 
A artista hoje com 80 anos .
Diria numa linguagem figurada que a palavra sensibilidade brota dos poros do corpo de Maria Adair. Ela transpira arte. Uma arte que nos faz alegres, uma arte que nos conduz a momentos de contemplação e felicidade. Para isto é preciso ter também sensibilidade, e um olhar especial sobre como esta arte brota e é concebida.
Adair escreveu o texto do catálogo da mostra fazendo uma retrospectiva de sua vida. Diz ela na introdução:
"Foi na Rua Aurora , hoje Avenida Presidente Vargas na cidade de Itiruçu, Bahia,onde tudo começou. A casa era o de número 22, a facada branco-bordeaux .O chão da rua ainda exibindo o tom de barro batido, marrom. Era o dia 6 de julho de 1938.Nasci."




quinta-feira, 6 de setembro de 2018

BETH SALES EXPÕE SUAS OBRAS EM PORTUGAL

A artista baiana Beth Sales ,que hoje assina também Elisabete Lopes Johason ,reside entre a fria Noruega e Portugal ,e tem mostrado sua arte em alguns países europeus, onde observo que ela capta a luz onde está inserida, mas conserva também em alguns trabalhos as cores quentes dos trópicos.
Muito comunicativa a Beth Sales sempre está enviando alguma informação sobre suas andanças, especialmente do seu fazer artístico.
Ela é dessas pintoras que trabalha quase por impulso diário querendo expressar através da arte suas impressões e sentimentos sobre os lugares onde está, as pessoas , os objetos e assuntos que instigam sua criatividade.
Escrevi algumas palavras que foram inseridas no Guia do mês de agosto de Algarve, e também na Agenda de Albufeira. 
Ao lado foto da publicação no Guia de Algarve.Abaixo foto da Agenda de Albufeira,ambos de agôsto 2018.


Aqui na Agenda de Albufeira

terça-feira, 4 de setembro de 2018

MUSEU NACIONAL DESTRUÍDO PELO FOGO

O que restou foram cinzas, tristeza e vergonha de ver um
tão importante museu desaparecer por má gestão.
As televisões interromperam ontem, dia 2, por volta das 19 horas suas programações dominicais para anunciar uma tragédia sem precedentes . O Museu Nacional estava sendo totalmente destruído pelo fogo! Ao completar 200 anos de vida sucumbiu ao descaso . Um  legado cultural importantíssimo para o país, deixado por centenas de pessoas que ali cuidavam e guardavam obras de arte, documentos históricos, objetos de antropologia, paleontologia e de muitas outras áreas. É verdade que a instituição vinha sofrendo um processo de degradação através dos anos. Porém,os governos das duas ultimas décadas  ( PSDB e do PT) deram as costas para as instituições culturais e históricas do país, porque a eles o que interessa é a sub-cultura, é a transgressão dos valores culturais e históricos de nosso país, como uma forma de dominação .
Não havia brigada de incêndio de plantão num monumento
com 13 mil m2 . Faltou prioridade dos responsáveis por sua
manutenção.
 Basta lembrar, que na festa de comemoração dos 200 anos do Museu Nacional do Rio de Janeiro nenhum ministro, tanto da Educação como o da Cultura e, muito menos o presidente da República, estiveram presentes. 
Lembro ainda que o então ministro da Educação do governo Dilma Rousseff  Aloísio Mercadante perguntou " O que um museu tem a ver com educação?". Esta frase dita por um ministro da Educação é uma prova cabal de que ele, e o Governo que  pertencia estavam se lixando para os museus. 
Isto ocorreu em 2016 quando todos reclamavam que o Museu Nacional estava em perigo, abandonado , e chegou até a fechar suas portas.
Ontem a televisão mostrou como ao invés de aumentar
os recursos para a manutenção foram diminuindo.
Agora, milhões de objetos culturais e científicos viraram cinzas e, apenas o famoso meteorito Bendegó resistiu bravamente à fúria das chamas.
Estamos vivendo no país com um processo de ideologização . Basta dizer que a Universidade Federal do Rio de Janeiro é dominada pelos militantes do PSOL e PC do B. Cabe a UERJ a administração do museu, e no seu último Orçamento dedicou apenas 0,03 % para custeio da instituição , o que não representa nem um terço de suas reais necessidades. Portanto, era uma tragédia anunciada, que nos entristece e envergonha. 
O problema da gestão de nossos museus. Veja que os
americanos não ficam atrás de uma cadeira esperando
pelo governo .Eles saem em busca de captar
recursos privados.
Não vamos esquecer dos culpados pela tragédia. Mas, é hora de repensar na hora da escolha da gestão das instituições culturais  que deve ser por mérito e não pelo partido que milita. 
Os alunos e professores da UERJ será que escolheram certo seus representantes? Parece que não, pelo que tem surgido na mídia sobre a situação das entidades que dirigem. Ontem, um grupo açodado compareceu querendo abraçar o museu em cinzas. Onde estavam estes militantes durante todo este tempo que antecedeu esta tragédia? Chega de demonstração oportunista e piegas.

terça-feira, 21 de agosto de 2018

MUITA ARTE NAS ESCADARIAS DO PAÇO

O escritor angolano Fernando Chissende
e a Família Teyuna, da Colômbia (reprodução)
Na próxima quarta-feira, dia 23, haverá um grande movimento de arte nas centenárias escadarias do Paço, no bairro de Santo Antônio Além do Carmo, no Centro Histórico de Salvador. No mesmo local onde o diretor Anselmo Duarte filmou o Pagador de Promessas, filme ganhador do da Palma de Ouro, no Festival de Cinema de Cannes, na França, em 1962. O evento começará a partir das 17 horas, e tem o sugestivo título de 1ª Mostra Internacional de Artes Urbanas - MIAU  com a presença de vários artistas .
Um dos promotores do evento é Roberto Leal que conta com o apoio da Secretaria de Cultura do Município, e promete ser uma grande confraternização entre os artistas e os amantes das artes visuais, da música , dança, gastronomia e moda.
Vão se apresentar artistas de circo,dançarinos, fotógrafos, escritores, poetas, estilistas , chefs de cozinha, músicos,  atores e atrizes , "e muito mais do que é produzido no espaço urbano de nossa Cidade, e de cidades de outros países."
Terá o Sarau do Miau com poesias de Taíssa Cazumbá,Walter César, Rafael Pugas, Michelle Saimon, Açucena de Lírio, Rafael e João de Vanderlei de Morais Filho. Também, haverá lançamentos de livros de autores baianos e africanos , com uma seção de autógrafos do poeta angolano Fernando Chissende , com seu livro Pensamentos em Estoque.
O show musical estará a cargo das bandas Som do Paço,Brasil; Daniel Dandê ; Família Teyuna , da Colômbia; Shalon Adonau & Projeto Samba Chula Tombo Couraça ;  Ras Ednaldo Sá ; Jorge Santana e Maniçoba Musical , de Santo Amaro.
A dança ficará por conta de Meirejane Lima, Dança Afro Mandingue e Dança Afro Peruana. A moda com muitas cores do rastaman Day Tribal, além de malabaristas de vários países.
A exposiçâo Descontrastando África  será composta de  13 fotos do repórter fotográfico Roberto Leal,  e bate papo com escritores baianos.

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

ABANDONARAM AS OBRAS DE MÁRIO CRAVO DO PARQUE PITUAÇU

O governo do Estado desprezou a cultura baiana.Gastaram R$132 mil na exposição " O Cu é Lindo", deixaram os museus à míngua e as esculturas de Mário Cravo Jr. , do Parque Pituaçu completamente quebradas,  enferrujadas, enfim abandonadas. Também , uma bela escultura de autoria de Juarez Paraíso está necessitando de restauração.
Soube que existe um projeto visando a restauração das esculturas, mas até agora não saiu da intenção, se é que existe. E, assim as obras vão se deteriorando cada vez mais. Algumas estão apresentando muita ferrugem, quebradas , outras  com ameaça de desabamento.
Como escreveu Waldeck Ornelas , o Parque de Pituaçu é um parque urbano e não tem muito sentido ser um parque de recurso natural, integrante do Sistema de Unidades de Conservação, e passar sua administração da Secretaria do Meio Ambiente.
 Ele sempre foi administrado pela Conder, e diga-se de passagem, bem administrado. Está provado que os gestores desta secretaria não têm a sensibilidade de lidar com obras de arte. É mais uma prova de que o mérito foi deixado de lado, passando a vigorar o apadrinhamento.
Será que um gestor que é responsável pelo meio ambiente está preocupado com as obras de arte? Pode até que a pessoa tenha alguma sensibilidade, mas não é o que vemos. Na visita que fiz  (dia 19 de agosto de 2018) ao Parque Pituaçu fiquei chocado com o que vi ,e ao me aproximar de uma das esculturas para fotografar  fui informado por um segurança que deveria me afastar porquê ela está ameaçada de desabamento.
Procurei me informar quando ocorreu a última restauração e fiquei sabendo que ocorreu  há mais de quatro anos! Ora, esculturas de ferro e aço localizadas a céu aberto e recebendo durante 24 horas o ataque do salitre ,que naquela área é bem forte, é claro que precisa de manutenção constante. Não se pode deixar se deteriorar a este ponto para fazer a manutenção. Deve ser uma coisa de rotina , como cortar a grama das áreas verdes.

                                                                      DESDE A ENTRADA

Percorrendo o Parque Pituaçu fiquei ainda mais chocado com o abandono a que foi relegado. Desde a entrada principal, onde existia um pórtico majestoso, hoje, completamente deteriorado, com a ferrugem tomando conta de tudo , inclusive sua estrutura pode estar comprometida.
Algumas esculturas desabaram e foram retiradas .Outras só restam os pisos onde estavam fixadas.
Debaixo do pórtico da entrada principal tem pedaços de esculturas que desabaram, e estão lá amontoadas como se fossem coisas imprestáveis.
Se não for tomada uma medida com urgência, em pouco tempo as esculturas do grande artista modernista da Bahia, falecido há poucos dias, que embelezavam e davam ao local um ambiente artístico e de imponência, estarão irremediavelmente perdidas.
Estamos vivendo momentos difíceis na vida brasileira e isto tem se refletido em todos os segmentos, principalmente afetado as classes médias e  as menos favorecidas. Enquanto isto, o atual governador do Rui Costa fica propagando na televisão e nos jornais que "A Bahia Vai Bem". Isto é uma grande mentira.Não vai bem. Perdemos muita coisa para Recife e Ceará.
Somos o segundo Estado em número de hotéis fechados, sendo o primeiro o Rio de Janeiro, que abriu muitos hotéis para as Olimpíadas e a Copa do Mundo,  e com a violência os turistas estão fugindo.
Somos um dos estados mais violentos do país, talvez o pior da região Nordeste . Enquanto isto, pagamos aos marginais um salário presídio de R$1.300,00, maior que os R$ 954, 00 que recebe um pai de família honesto.

sábado, 18 de agosto de 2018

TRAGÉDIA DE MARIANA NUMA VISÃO POÉTICA DA FOTOGRAFIA


Este sapato feminino que enfeitava e protegia
o pé de  uma mulher dá uma dimensão da
tragédia dá uma ideia das perdas .
As pacatas vilas de Bento Gonçalves e Paracatu de Baixo que existiam no entorno da barragem de resíduos do Fundão  da mineradora Samarco, em Mariana, no estado de Minas Gerais , foram cobertas pela avalanche de lama em poucas horas. Por onde aquele rio de lama passou em novembro de 2015 deixou para trás tragédias e destruição. Vidas que se foram, histórias e lembranças sepultadas na imensidão de muitas toneladas de lama composta de barro e resíduos tóxicos de mineração que foram cair no rio e depois no mar poluindo tudo. 
Restam as lembranças orais e imagens cobertas de lama fixadas pela mídia e por profissionais que se dedicam a documentar e fotografar estas tragédias, para que não sejam esquecidas e que nunca jamais se repita. Com certeza foi a maior tragédia ambiental no Brasil dos últimos séculos.
Lembrei da passagem do Gênesis cap 3, v 19 quando Deus diz a Adão e Eva após comerem o fruto proibido:"Com o suor de teu rosto comerás teu pão até que retornes ao solo, pois dele foste tirado.Pois tu és pó e ao pó tornarás".
A imagem que tanto foi
reverenciada pelos fiéis
agora coberta de lama.
Sob o título Mariana o fotógrafo Christian Cravo  está expondo 28 fotografias que ele fez no local onde podemos sentir em cada uma delas a dor da perda de entes queridos, de suas casinhas erguidas com tanto sacrifício, e que serviam de porto seguro para àquelas famílias.Até a imagem de Nossa Senhora que ficava na igrejinha encontra-se parcialmente coberta de lama.
O sentimento não é apenas de perdas. O sentimento é semelhante àquele que vivenciamos quando um ente querido desaparece e não é mais encontrado. Aqui alguns entes queridos, as casinhas , suas histórias e relações foram ceifadas, e o que restou é imprestável .Cada vez que olhamos aumenta  a tristeza.
O texto de apresentação é  do talentoso Bené Fonteles .Uma poesia à parte: "Christian foi à Mariana ,à terra de Maria, a mãe que agora coberta de lama vaza na imagem profanada e em tantas outras coisas impedidas de ser de referências afetivas de gente e espaço..."
Restaram um rio poluído e uma terra sem alma, e pessoas sem referências. Restou principalmente a dor indescritível e incapaz de ser captada pela lente de uma câmara, por mais sofisticada que seja.
A exposição Mariana está na Caixa Cultural até o dia 21 de outubro . O endereço é Rua Carlos Gomes ,número 57,Centro , prédio onde funcionava a antiga sede dos Diários Associados.