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terça-feira, 16 de julho de 2013

O FUNDO INFINITO DE MÁRIO CRAVO NETO

JORNAL A TARDE , SALVADOR, SÁBADO, 07 DE JANEIRO DE 1978


"O Fundo Infinito como elemento de suporte orgânico existencial e criador, brotou recentemente sendo o começo do meu fascínio por uma série de novos e velhos conceitos a respeito dos problemas do volume, textura, luz e sombra.Basicamente o trabalho parte de uma estrutura frontal pendente, de importância vital como elemento iniciador. Os objetos que serão postos na frente ou no fundo deste elemento  no caso específico, uma velha lona que serviu para proteção de cargas de caminhão, tem um caráter provisório e poderão ser retirados ou substituídos por outros a qualquer momento, a depender de fatores que venham afetar minha experiência cotidiana durante a referida mostra.O background passa a ser o elemento de maior importância para apresentar a imagem do criador através de uma linguagem plástica." Mario Cravo Neto

O desenvolvimento coerente da obra de Mário Cravo Neto vem fixando entre nós a imagem dos artistas em torno de um repertório de formas que, embora provenientes de procedimentos diversos, indicam um sentido constante. Os meios, variando da fotografia ao audiovisual e ao filme, da escultura aos pequenos ambientes ou mesmo paisagens sugerem principalmente a procura de um acordo entre a forma natural e a forma cultural. Sua atenção parece recair sobre um momento do trabalho humano, aquele da transformação da natureza em objeto: recria então seus objetos e ambientes corrigindo o caminho pedratório da sociedade de consumo, ou a apropriação indevida que o homem fez na natureza ao organizar seus meios de vida. Busca ainda, tornar perceptíveis outras possibilidades de relação entre o homem e o meio primeiro, natural. Guardando sugestões das sementes, dos peixes, dos frutos, ou construindo ambientes com fortes alusão natural, visando uma estrutura que respire e viva, vem criando objetos em séries, ganham pela forma, pela textura, pela transparência um sentido orgânico. Tenta ainda aproximações capazes de conciliar os materiais plásticos  naturais, os processos do artesanato popular e da indústria. A nova organização do meio, da paisagem, do objeto corresponde um homem conforme a natureza, insinuando por formas básicas como as da mandala.
Diante desta imagem do artista O Fundo Infinito que surge da confluência do artista plástico e do fotógrafo, vem expressar outras preocupações de Mário Cravo Neto.
Lembrando a disposição de seus recentes painéis-escultura que ocupavam a parede, O Fundo Infinito é apresentado como elemento autônomo. Advindo da familiaridade do fotógrafo com o artifício utilizado em estúdio para eliminação de qualquer referência ao espaço no qual se fotografa um objeto, o fundo infinito é espaço infinito, é ausência do contexto.
Embora utilizando uma lona remendada, cobertura do caminhão, Mário não se vale desta referência: recortado em 5x3, o material indetermina-se para infinitas transformações. O pano de fundo torna-se elemento gerador e mutável, fortemente identificado com o artista, seu interlocutor. As concretizações dependerão segundo o próprio Mário Cravo, daquilo que existencialmente lhe for suscitado durante este período em que está expondo e serão registradas fotograficamente.
É entretanto possível antever por algumas soluções já esboçadas, a sua intenção de expressar por intermédio do pano de fundo, o espaço interior do fotógrafo ou mesmo o fundo do artista, estendendo eixos de profundidade para regiões menos descortinadas, querendo penetrar o mais recôndito e evitar as manifestações aparentes. Seja pela profundidade psicológica até o inconsciente, seja pela indagação metafísica, conforme sugerem algumas fotos deste trabalho, O Fundo Infinito vem registrar a vontade de ir infinitamente.

 A TAPEÇARIA VISTA POR GERALDO EDSON DE ANDRADE

Partindo da atuação pioneira da paulista Regina Gomide Graz na década de 20 e destacando a atuação positiva do baiano Genaro de Carvalho quase trinta anos após, foi lançado no Rio o livro Aspectos da Tapeçaria Brasileira, editado pela Spala.
Seu autor, Geraldo Edson de Andrade, nascido em Natal, Rio Grande do Norte é secretário da Associação Brasileira de críticos de Arte, escreve na revista Isto É, Jornal de Ipanema e Jornal de Lazer e ocupa o cargo de assessor da Diretoria do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
Aspectos da Tapeçaria Brasileira é a primeira obra editada no Brasil sobre o assunto explica Geraldo, afirmando que a obra nasceu da necessidade de documentar o que vem sendo realizado em matéria de tapeçaria em várias regiões do país.
Obra de Genaro de Carvalho uma sinfonia da nossa flora

"O aspecto histórico do livro é importante, principalmente porque através dele procuramos entender o que seja a tapeçaria em termos brasileiros. Mas acho que mostrando visualmente o que vem sendo criado em todos os estados pelos nossos principais artistas a mensagem é muito mais positiva."
Contendo 125 reproduções coloridas, trabalho do fotógrafo Antônio Rudges, o livro de Geraldo Edson de Andrade é dividido em dez capítulos, nos quais são analisadas as participações de artistas como Madalena e Concessa Colaço, Nicola e Douchez, pintores que aderiram bissexualmente à tapeçaria, como Di Cavalcanti, Iberê Camargo, Bianco, dentre outros, sem falar na enorme contribuição de Genaro de Carvalho.
Embora ainda hoje tenha números limitados o que prova o seu pioneirismo, Genaro teve atuação decisiva para elevar a tapeçaria como arte no Brasil, pois foi ele o primeiro artista brasileiro a encará-lo como um gênero autônomo. Inclusive reconhecido por um nome respeitável da tapeçaria internacional, como Lurçat. Por isso não é de se admirar que a temática principal de Genaro, englobando flora, pássaros e flores, uma permanente alegoria à sensualidade tropical baiana, permaneça como motivos constantemente copiados por iniciantes.

           ARTISTAS AMERICANOS ESPANTAM RUSSOS

A Pop Art e o Superrealismo norte-americano chegaram à União Soviética e os russos estão espantados.
Cerca de um quarto dos 85 quadros numa exibição chamada representações dos Estados Unidos constituem pinturas de avant garde das décadas de 1960 e 1970, em estilos raramente expostos, na União Soviética, onde o realismo socialista tem um  reinado absoluto.
Henry Geldzahler, diretor da Arte do Século 20 do Museu Metropolitano de Arte de Nova Iorque, realizou a mostra a pedido das autoridades soviéticas que solicitaram a exibição do realismo norte-americano.
Nosso direção do realismo é levá-lo até onde puder ir, afirmou Geldzahler, referindo-se a arte Pop e ao Superrealismo.
Para muitos dos russos que apareceram para observarem a mostra, quando esta foi aberta ao público.
"Parece mais um anúncio do que uma obra de Arte", afirmou Alexander Sokolov, estudante de arte, de 25 anos, diante da gigantesca série de telas de seda de Andy Warhol sobre Elvis Presley."Gosto de moldura. O quadro? Tem pouco em comum com arte," afirmou Boris Pinskhasovich, de 63 anos, também pintor, ao comentar The Los Angeles Country Museum on Fire, de Ed Ruscha.
Neil Profkine, engenheira de meia-idade, disse que nunca perde uma exposição, mas que esta era diferente de qualquer coisa que vira antes.
Promenade of Merce Cunningham,
de James Rosenquist,1963
Profkine, estava diante deste quadro ao lado  de James Rosenquist  que apresenta os pés da dançarina Mercê Cunningham  sobre o Chon Suey, prato sino-norte-americano de pedaços de carne e verduras, a acima um rosto de mulher de cabeça para baixo.Simplesmente não consigo entender, disse. "É difícil dizer porque ele pintou esse quadro".
Geidzehler disse ter enviado as fotos dos quadros que pretendia incluir na mostra às autoridades soviéticas há 18 meses e que elas lhe pediram que acrescentassem um nu de Leon Kroll e os trabalhos dos artistas nascidos na Rússia Raphael Soyer, Bem Shahn e John Graham.
Provavelmente os quadros mais controvertidos foram dois modelos femininos nus sobre uma cama de autoria de Philip Pearlstein, disse Geldzahler. Eles acharam que as mulheres eram lésbicas, mas eu  disse que eram apenas modelos de artistas mostrando-lhes que elas não estavam se tocando. Eles concordaram quando  lhes disse que o pintor havia solicitado particularmente que fossem incluídos seus quadros na mostra. Geldzahler incluiu propositadamente vários trabalhos do realismo social da década 1930 de pintores como Reghald Marsc, Shahn Fletcher Marin e Joe Jones.
"Queria que eles se preparassem um pouco mais sobre pelo que passaram os Estados Unidos na década de 1930 quando a economia não funcionou para que viessem depois os quadros Pop, o auge do consumismo e do materialismo," afirmou.
A mostra ficará em Moscou por dois meses devendo então ser transferida pela Leningrado e Minski para dois meses em casa cidade.
Geldzahler escolhido pelo prefeito eleito de Nova Iorque Edward Kosch como seu novo comissário de assuntos culturais, disse que pretendia retornar a Moscou com alguns dos artistas cujos quadros estão na mostra para uma discussão pública dos trabalhos.
Ao lado um belo trabalho de Leon Kroll, que certamente agradaria
aos russos espantados.


                O HOMEM DA OBRA DE SÔNIA RANGEL

Sônia Rangel está expondo no Museu de Arte Moderna da Bahia numa promoção conjunta da Fundação Cultural do Estado e a Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia reunindo 27 trabalhos tendo o Nordeste como cenário e o misticismo como temática.
“Vejo o homem nas suas relações com o milagre, em súplicas e agradecimentos desnudando-se em figuras ao mesmo tempo frágeis e fortes em profunda solidão e abandono, buscando sua força e sua integridade na construção de uma relação concreta, quase material com a divindade”, declara Sônia Rangel. O homem e sua mão seguram a fraqueza e a força. Está vivo em determinadas circunstâncias também é um milagre.
Para Juarez Paraíso,  que apresenta a nova mostra de Sônia Rangel “o suporte inspiracional de grande parte das gravuras e desenhos de Sônia Rangel reside nas reminiscências e nos sonhos da jovem artista.
A sua realidade criativa  tudo converte a uma fascinante unidade poética”.
Em outro trecho afirma Juarez Paraíso que “a solidariedade é o sentimento mais imediato que os passageiros dos seus trens suburbanos despertam em todos nós. Pelo seu profundo lirismo amando-os no seu sofrimento e solidão nos preparamos para o reencontro com a realidade, onde a injustiça e o sofrimento do homem são fruto da nossa própria omissão e comodismo.
Paralelamente acrescenta ele – em 1977 retoma a temática dos trens suburbanos e ex-votos com uma extensa carga expressional. Há momentos em que os dois temas de fundem e as propostas formais se harmonizam. Em todos os dois o milagre da sobrevivência física e moral, o desespero transformado em esperança.”

      QUATRO XILOGRAVADORAS

Quatro gravadoras ligadas artisticamente ao xilo Anna Carolina, Isa Aderne,Martha Silla e Sandra Santos, expõem xilograuras na Galeria Morada, no Rio de Janeiro.

ANNA CAROLINA – nasceu no Rio de Janeiro. Começou a participar de salões a partir de 1975, no
 I Salão Nacional de Desenho e Artes Gráficas, onde obteve Medalha de Prata. Estudou xilogravura com José Altino  na Escolinha de Arte do Brasil e frequentou o atelier livre de Abelardo Zaluar. O telefone e suas implicações sócio-existenciais é a temática freqüente de Anna Carolina que, recentemente, mereceu premiações no I Salão da Ferrovia e no I Salão Paranaense de Arte.

ISA ADERNE – nasceu em Cajazeiras, Paraíba. Estudou pintura e gravura na Escola de Belas do Rio de Janeiro, passando a ensinar a técnica da xilo na Escolinha de Arte do Brasil e mais recentemente no Museu Histórico do Rio de Janeiro, em Niterói. Isa participou do Salão Nacional de Arte Moderna, do I Concurso Latino Americano de Gravura ,em Havana, em 1973; Bienal de São Paulo;Salão Paraibano de Belas Artes;
I Bienal de Artes Plásticas , em alguns deles obtendo premiações. Em 1977 atuou como professora no
XI Festival de Inverno na Universidade Federal de Minas Gerais; nas Oficinas de Gravura, 1977; Coletiva Casa dos Contos, Ouro Preto. A partir de 1976 colaborou como especialista em artes plásticas nos pacotes culturais do Departamento de Cultura da Secretaria de Educação do Rio de Janeiro. Tem feito pesquisas a partir de 1970 em fotografias e cinema.

MARTA SILLA – nasceu no Rio Grande do Sul foi aluna de pintura de Iberê Camargo no Instituto de Belas Artes e estudou xilogravura na Escolinha de Arte do Brasil.Participou de uma coletiva de gravuras e desenhos em Porto Alegre, em 1975;O Artista Visto pelos Artistas, Galeria Atelier, 1975; Salão Nacional de Arte Moderna,; Bienal Nacional de São Paulo, em 1976;Salão da Casa da Bahia e I Salão da Ferrovia em 1977. Neste último merecendo o Prêmio de Aquisição.

SANDRA SANTOS – nasceu no Recife , em Pernambuco. Fez toda a sua formação de gravadora na Escolinha de Arte do Brasil, na qual foi aluna de Isa Aderne e José Altino. Estudou técnica de gravura e metal com Orlando da Silva; participou de uma coletiva com José Altino, no Recife em 1975 e em 1977 realizou a sua primeira individual na Galeria Divulgação e Pesquisa, no Rio de Janeiro. No ano passado obteve uma das premiações do Salão de Artes Plásticas de Goiás.

EXPOSIÇÃO DO CENTENÁRIO DA ESCOLA DE BELAS ARTES
Com mais uma Sala Especial dos Fundadores da Escola, onde estão expostas obras de Miguel Navarro Y Cañizares,( fundador), João Francisco Lopes Rodrigues, Manoel Lopes Rodrigues e de antigos mestres como Agripiniano Barros, Oseas Santos, Presciliano Silva, Alberto Valença, Mendonça Filho, Raymundo Aguiar e outros; com Sala Especial dos professores atuais , onde irão figurar trabalhos de Mercedes Kruschewsky, Riolan Coutinho, Juarez Paraíso, August Buck, Evandro Schneiter, Sílvio Robatto, Humberto Rocha, Ailton Silveira, Edson Barbosa, Jamison Prazeres, etc; com Sala Especial para os ex-alunos: Carlos Bastos, Sante Scaldaferri, Calasans Neto, Edson da Luz, Ligia Milton, Helio Oliveira, Edsoleda Santos, Roberval Marinho, João Carrera, Sônia Rangel e alunos atuais como Zivé. Murilo Ribeiro, Guache,Decaconde e outros.
A referida exposição patrocinada pela Reitoria da Ufba tem a co-participação da Fundação Cultural do Estado da Bahia, do Museu de Arte Moderna, tem como coordenadores os professores Silvio Robatto, Diretor do MAM-Ba e Ivo Vellame, diretor da Escola de Belas Artes, da Ufba.
A sua programação visual está sob a responsabilidade do professor Humberto Rocha, autor do cartaz e programador do Catálogo Geral que tem a apresentação do Professor Carlos Eduardo da Rocha.


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