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terça-feira, 9 de julho de 2013

MÁRIO CRAVO E VICENTE SAMPAIO COM 140 FOTOGRAFIAS NO UNHÃO

JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO, 5 DE JULHO DE 1976

Cena típica de uma grande metrópole  captada por Mário
Cento e quarenta fotografias serão expostas a partir de 10 de junho próximo no Solar do Unhão. Como podemos observar são dois nomes-legenda. Dois profissionais que juntos representam o que de mais importante existem em fotografia na Bahia. Mário Cravo Neto é um nome nacional e seu parceiro, Vicente Sampaio não fica atrás. Recentemente ganhou o 2º lugar num concurso internacional patrocinado pela Nikon com uma foto de Cachoeira. Um detalhe é que sua foto colorida foi a única apresentada em página dupla no catálogo do concurso.
Ambos residem na Boca do Rio numa rua que lembra uma cidadezinha do interior onde gatos e cachorros perambulam pelos passeios e a garotada joga o tradicional baba sem ser obrigado a correr com receio de um atropelamento.
Trabalham num ambiente da paz, necessário para a criação.Já tive oportunidade ou o privilégio de ver algumas das fotos que serão expostas no Solar do Unhão e posso assegurar que é o que existe de melhor em técnica e sensibilidade.
Outra foto feita nos Estados Unidos 
As fotos de Mário Cravo Neto são divididas em dois grupos distintos: algumas feitas em Nova Iorque e outras na Bahia. A figura humana, os animais e mesmo a paisagem são os temas predominantes, sendo que em todas elas você observa além da qualidade técnica uma sensibilidade que só os grandes artistas possuem.
Mário Cravo Neto é um artista disciplinado e exige de seu trabalho o máximo. Uma foto é revelada duas e até quatro vezes até que desapareçam os grãos e fique completamente nítida com seus contrastes de branco, preto e cinza, num ponto ideal. O mesmo acontece com Vicente Sampaio.
As fotos serão apresentadas em tamanho 38 X 26 com os suportes adequadamente escolhidos e dispostas de maneira que o espectador tenha do início ao fim uma visão global do trabalho de ambos. Finalmente  quero dizer que as 140 fotos que os baianos terão oportunidade de ver e adquirir não são simplesmente fotos, ali está presente a sensibilidade e a criação de dois jovens artistas que realmente sabem o que e como estão fazendo.

                   UMA GRAVURA DE ITAPUÃ

Baleias, antes presença constante em Itapuã
Pouca gente sabe avaliar o envolvimento do trabalho do gravador Calasans Neto com a República Livre de Itapuã, terra onde tremula uma bandeira branca e azul com duas baleias se encontrado. Mas agora vou revelar este envolvimento através das palavras de Calá, que sabe falar como ninguém. Declarou Calasans Neto que "quando cheguei a Itapuã haviam coisas antagônicas que não conseguia  explicação. Não conseguia, por exemplo, descrever o céu de Itapuã e outros fenômenos que aqui ocorriam como os gritos e gemidos de pássaros e animais, e passei a descrevê-la em
minha mente sonhadora como bichos com cara de gente."
E continuou "Durante a madrugada sempre ouvi cantos de aves noturnas que jamais alguém será capaz de ouvir em outros lugares. É dentro desta imagem fantástica, que estou desenvolvendo esta álbum que será lançado nos próximos dias intitulado Itapuã Céu."
O álbum trata dos pássaros e do céu misterioso de Itapuã, dando continuidade a um tema que o artista vem desenvolvendo. Tudo começou com o lançamento de Itapuã Mar, onde as cabras usadas antes, foram misturadas com as baleias, sendo que elas ficavam expostas sobre as grandes rochas onde batem as ondas brancas do mar. Agora é a também da minha idade. "Dizem que quando a gente chega aos quarenta, geralmente o trabalho artístico está melhor consubstanciado e maduro também., brinca Calá.
As cabras que habitavam
 a Lagoa do Abaeté
-A cor por exemplo, só utilizo quando é estritamente necessária. Como você pode notar a cor não é uma presença constante, ela surge como sugestão, quando o tema exibe. Isto porque eu vejo a gravura de forma mais ortodoxa onde a textura supre a cor. Se usasse  cor com intensidade eu seria um pintor e não um gravador. As cores preto e branco e o contraste resultante no papel são suficientes para atender aos objetivos do meu trabalho e expressam o que desejo."
A gravura é vista assim por Calasans Neto, ela tem uma importância muito grande nas artes visuais porque tecnicamente esta forma de expressão exige muito do artista. A gravura permite uma intimidade do material com o artista. Enquanto o escultor leva desvantagem porque o seu trabalho é monumental e ele não pode reproduzir. Se o escultor concebe uma escultura pequena, ela desaparece na sala no meio de outros objetos.
Já em relação ao mercado no meio de outros objetos.Já em relação ao mercado de arte a gravura leva um pouco de desvantagem e o seu público é muito menor em relação à pintura. O público da escultura é ainda menor que o da gravura.
Só uso a multiplicidade da gravura como matriz. A tiragem fica para meus álbuns que é limitada, numerada e assinadas todas ás cópias. Não multiplico a gravura por uma tomada de posição pessoal. Faço a matriz usando a mesma característica de uma gravura estampa, porque acho que é mais viril e evita o suporte, funcionando por ela mesmo. Também, é claro, evitam as dúvidas com relação ao número exato da tiragem, que em última instância esta dúvida só serve para desprestigiar o trabalho e o próprio artista.
                    
            O ÁLBUM
Os pássaros que tiram o sono do brincalhão Calá
Voltando ao álbum que será lançado por Calasans Neto vou dar alguns detalhes com uma seqüência dos que já foram lançados: Itapuã Mar, teve uma tiragem de 100 exemplares, com texto de James Amado.
O Itapuã Céu, que será lançado terá 150 exemplares com texto em Português e Inglês. Terá oito gravuras assinadas e numeradas sendo seis a cores e duas preto e branco. O texto será feito por Guido Guerra, e a capa está sendo confeccionada por Celestino dos Anjos, um operário que conseguiu uma técnica superior a feita com utilização de maquinário moderno.
Finalmente quero ressaltar que o trabalho de Calasans Neto não é simplesmente descritivo ou uma tomada de posição do ponto de vista geográfico, e sim uma posição de envolvimento e conhecimento de uma realidade que em determinados momentos passa para o misterioso. Os pássaros que diariamente cruzam os céus de Itapuã sob o brilho do sol, são substituídos à noite por outros, com caras de gente e de baleias.

                      BAIANOS EM BRASÍLIA

Três grandes caixotes com dezenas de trabalhos de artistas baianos já estão em Brasília para uma grande exposição que está sendo montada na Galeria Decor de Interiores, na Capital Federal. Os trabalhos foram enviados por Roberto Araújo, da Galeria Rag, que fica na Boca do Rio. Serão expostos trabalhos de Ângela Madalena, Alfonso Lafita, Antoneto, Ademar Lopes, Juarez Paraíso, Rescala, Raymundo Aguiar, José Arthur, Calixto Sales, Joselito Duque, Edmundo Simas, Osvaldo Assis, Ivan Lopes, Ricardo Ferrado (argentino), Benedito Barreto e muitos outros.

                         JOVENS NA CAÑIZARES

Quatro jovens artistas estão expondo na Galeria Cañizares, no Canela. A exposição foi montada pela Escola de Belas Artes e consta de trabalhos de Dilla (xilogravura), Carlos Marques (cobre esmaltado), Ramos Melo (entalhe) Josilton (entalhe).
A xilogravura de Dilla é simples, com traços firmes e movimentos, sem maiores novidades. Todos os trabalhos expostos são em preto e branco, e destaco uma delas Puxada de Rede.
Onde os movimentos são mais cuidadosos do ponto de vista artístico. No entanto, a sua gravura ainda está a merecer um trabalho mais cuidadoso, mais pesquisado para não ficar simplesmente na figuração.
Quanto aos trabalhos em cobre esmaltado de Carlos Marques, demonstra um cunho quase artesanal. Você é capaz de confundir com outros feitos por aí afora.
Um trabalho decorativo que agrada pelas cores e o brilhantismo do esmalte. Mas, na realidade pouca coisa acrescenta. Sinceramente me impressionei foi com os entalhes de Ramos Melo e Josilton. Os entalhes de Josilton demonstram uma certa preocupação do artista em esculpir. As formas geométricas concebidas querem saltar do resto da madeira para funcionar como esculturas. Um caminho certamente não vai demorar para este jovem artista será a escultura. Diria mesmo que seus entalhes tendem mais a escultura. Já o Ramon Melo é velho conhecido dos baianos. Um nortista que mostra no talho a profundeza e o sofrimento do Nordeste. São traços profundos e secos onde a gente nordestina e as coisas da região desfilam. 

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